Há algum tempo, Mano Menezes disse que Muricy Ramalho era o melhor técnico do Brasil. O treinador corintiano justificou sua escolha com a tese de que "futebol é resultado". Não quero entrar no mérito de uma possível tabela de classificação dos técnicos, que tende a ser avaliação muito parcial e subjetiva (e no meu caso poderia coroar mais uma vez, por motivos muito suspeitos, o primeiro treinador tricampeão brasileiro pelo mesmo clube). No entanto, citei o voto de Mano em Muricy para escrever alguma coisa sobre essa ideia um tanto industrial de que futebol é resultado, ideia que anda predominando no mundo da bola, imprensa incluída.
Certamente, o futebol deve ser resumido aos seus resultados na opinião de investidores, patrocinadores, empresários, os maiores interessados nos triunfos dos seus empreendimentos futebolísticos. Porque para os torcedores — e aqui eu falo como um deles —, futebol não pode ser só isso. Resultados podem garantir os títulos que, por exemplo, corintianos, palmeirenses e santistas não têm; no entanto, o futebol bem jogado, ofensivo e criativo, é o que garante estádios cheios e o espetáculo propriamente dito, o que, no meu modo de ver, é muito mais legal. Pois foi o futebol-arte, tão raro no nosso futebol atual, que consagrou nossos jogadores e que envolveu nossas seleções com uma mitologia que não decepcionava o mundo durante as Copas, principalmente no tempo em que os principais craques brasileiros jogavam em clubes brasileiros (distantes, portanto, das lentes estrangeiras). É triste perceber que as diretrizes para o futebol são determinadas com base em valores um tanto estranhos ao espírito esportivo, e que quase sempre é desconsiderada a perspectiva dos torcedores, os que realmente fazem do futebol algo tão especial. Para mim, trata-se de um evidente sinal dos tempos, num tempo em que tudo é submetido às regras do mercado e é transformado em mercadoria.
Para falar de um caso particular, considerando o atual contexto do futebol, eu corro o risco de ser o único são-paulino que pouco se anima com a arma "infalível" das bolas paradas e dos cruzamentos que saem dos pés de Jorge Wagner. Embora eu torça por esse cara e comemore os gols das suas jogadas como poucos torcedores, não posso negar que me irrita a insistência com que o São Paulo lança mão desse artifício, especialmente em jogos contra adversários de defesa mais compacta e bem armada. Nesses casos em que se faz necessária a criação de jogadas rápidas e inesperadas, o tão badalado "recurso Jorge Wagner" quase sempre se mostra insuficiente para mim. Acredito que poucos torcedores têm sofrido tanto quanto os são-paulinos diante da apatia e da falta de criatividade da equipe em jogos duros (ainda mais em comparação a rivais como o Palmeiras, que têm jogado bonito por aí). E poucos atacantes têm sofrido tanta pressão por gols quanto os do São Paulo — e inclusive alguns deles já pediram para que o time, enfim, "ponha a bola no chão" para que eles possam exercer melhor seu poder de decisão.
Muricy tem conquistado títulos importantes e o respeito entre os colegas justamente com o seu modo particular de comandar e com as armas que cria. Profissão ingrata essa de treinador nos dias de hoje, que exigem resultado constante num esporte coletivo determinado por tantas variáveis; consciente da tremenda dificuldade, Muricy é, atualmente, quem melhor sabe "jogar com as regras" do futebol no Brasil. Se o esporte um dia se libertar dessa verdadeira ditadura do resultado, penso que o treinador vai ter de passar a incentivar um pouco mais a criatividade dos seus jogadores, em nome do espetáculo. Quando e se isso acontecer, ninguém vai precisar implorar para que os torcedores lotem os estádios. Enquanto isso não acontece, eu continuo sofrendo nos jogos do Tricolor, sem deixar de agradecer aos céus porque Muricy Ramalho é técnico do São Paulo Futebol Clube.
(Este texto foi escrito no início do Campeonato Paulista de 2009; infelizmente, ainda assino embaixo de tudo o que está escrito, com exceção, graças a Deus, à parte que faz menção ao Palmeiras. Sobre o avanço do mercado sobre o futebol, recomendo a leitura deste artigo. Sobre o desencanto gerado pelo que chamamos "ditadura do resultado", sugiro este e este).
Certamente, o futebol deve ser resumido aos seus resultados na opinião de investidores, patrocinadores, empresários, os maiores interessados nos triunfos dos seus empreendimentos futebolísticos. Porque para os torcedores — e aqui eu falo como um deles —, futebol não pode ser só isso. Resultados podem garantir os títulos que, por exemplo, corintianos, palmeirenses e santistas não têm; no entanto, o futebol bem jogado, ofensivo e criativo, é o que garante estádios cheios e o espetáculo propriamente dito, o que, no meu modo de ver, é muito mais legal. Pois foi o futebol-arte, tão raro no nosso futebol atual, que consagrou nossos jogadores e que envolveu nossas seleções com uma mitologia que não decepcionava o mundo durante as Copas, principalmente no tempo em que os principais craques brasileiros jogavam em clubes brasileiros (distantes, portanto, das lentes estrangeiras). É triste perceber que as diretrizes para o futebol são determinadas com base em valores um tanto estranhos ao espírito esportivo, e que quase sempre é desconsiderada a perspectiva dos torcedores, os que realmente fazem do futebol algo tão especial. Para mim, trata-se de um evidente sinal dos tempos, num tempo em que tudo é submetido às regras do mercado e é transformado em mercadoria.
Para falar de um caso particular, considerando o atual contexto do futebol, eu corro o risco de ser o único são-paulino que pouco se anima com a arma "infalível" das bolas paradas e dos cruzamentos que saem dos pés de Jorge Wagner. Embora eu torça por esse cara e comemore os gols das suas jogadas como poucos torcedores, não posso negar que me irrita a insistência com que o São Paulo lança mão desse artifício, especialmente em jogos contra adversários de defesa mais compacta e bem armada. Nesses casos em que se faz necessária a criação de jogadas rápidas e inesperadas, o tão badalado "recurso Jorge Wagner" quase sempre se mostra insuficiente para mim. Acredito que poucos torcedores têm sofrido tanto quanto os são-paulinos diante da apatia e da falta de criatividade da equipe em jogos duros (ainda mais em comparação a rivais como o Palmeiras, que têm jogado bonito por aí). E poucos atacantes têm sofrido tanta pressão por gols quanto os do São Paulo — e inclusive alguns deles já pediram para que o time, enfim, "ponha a bola no chão" para que eles possam exercer melhor seu poder de decisão.
Muricy tem conquistado títulos importantes e o respeito entre os colegas justamente com o seu modo particular de comandar e com as armas que cria. Profissão ingrata essa de treinador nos dias de hoje, que exigem resultado constante num esporte coletivo determinado por tantas variáveis; consciente da tremenda dificuldade, Muricy é, atualmente, quem melhor sabe "jogar com as regras" do futebol no Brasil. Se o esporte um dia se libertar dessa verdadeira ditadura do resultado, penso que o treinador vai ter de passar a incentivar um pouco mais a criatividade dos seus jogadores, em nome do espetáculo. Quando e se isso acontecer, ninguém vai precisar implorar para que os torcedores lotem os estádios. Enquanto isso não acontece, eu continuo sofrendo nos jogos do Tricolor, sem deixar de agradecer aos céus porque Muricy Ramalho é técnico do São Paulo Futebol Clube.
(Este texto foi escrito no início do Campeonato Paulista de 2009; infelizmente, ainda assino embaixo de tudo o que está escrito, com exceção, graças a Deus, à parte que faz menção ao Palmeiras. Sobre o avanço do mercado sobre o futebol, recomendo a leitura deste artigo. Sobre o desencanto gerado pelo que chamamos "ditadura do resultado", sugiro este e este).
Um comentário:
Cara, muito legal.
Compartilho desta angústia tricolor que está a dois dias de definir os rumos naquele campeonato que a gente joga sempre.
Mas sabe Mateus? Tenho algo que me "diz" sobre os resultados; é estranho, mas parece funcionar em 80% dos casos. E, infelizmente, esse sentimento para o jogo contra o Cruzeiro é negativo. Tomara que prevaleça os 20%.
E bah! Achei que de macaco só o Alberto que manjava algumas "coisinha" de futebol.
Parabéns pela análise e crítica.
abraço
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