Queridos leitores,
Eu era uma das pessoas perdidas quando o enorme portão do castelo desabou no meio da ventania. Corri não sabia para onde seguindo um grupo de pessoas. Estavam felizes e assustadas com a liberdade. Liberdade repentina, presente de uma tempestade e permitida por um portão caído. Creio que depois de meia hora andando, a chuva começou! Por mais assustadora que pareça a visão de uma forte chuva no meio da mata fechada, o que me tomava era a alegria.
Uma nuvem de castelo
Que não seja uma miragem!
Peça ao rei, na hora certa,
Água pura pra estiagem.
Além da chuva, ouvi que algo se aproximava: água descendo do morro. Preferi subir na árvore em meio a tantos relâmpagos do que enfrentar a correnteza. Quando me vi em segurança, tive outro bom sinal: vi umas frutinhas sendo levadas pela correnteza. Corri meus olhos da água para a árvore que me acolhia e algo na minha cabeça dizia: são as “cavalinhas”! E isso só poderia significar uma coisa: eu estava perto meu querido Mateus, talvez eu já estivesse no morro dos relinchos agudos, ou pelo menos, em um dos morros agudos.
Adormeci sem perceber.
Quando acordei, a primeira coisa que vi: a linda paisagem verde dourada pelo sol. A primeira coisa que senti: o cheiro de verde molhado. A primeira coisa que ouvi: vozes vindas do verde! A surpresa maior foi quando me virei e a segunda coisa que vi: o encampado cheio de gente. Circulando por toda parte. Gente conversando, trabalhando, descansando. Uma menina brincando. O homem que sempre fazia fogueira no quintal do castelo. Um casal de namorados. A velhinha das hortaliças. O Pimentinha e o Teodoro. Um cachorro conversava com um burro enquanto eram observados por um gato. Uma mariposa andava de trem. Uma borboleta voava perto de um besouro. Um homem que cantarolava “What a wonderful world” enquanto descascava uma “cavalinha”. A bailarina, que me ofereceu a casa dela, dançava sorrindo. João e Maria. Um padre. O velho escrivão e uma cena inusitada: o cavalinho branco,
Havia trilhado por algumas horas, quando, de repente, aos galopes, passou um cavalo (aos galopes só poderia ser um cavalo, não é, burro?). Um cavalinho branco, bem pequeno, bem branquinho. O cavalinho da noite!
e uma cena inusitada: o cavalinho branco, o amigo João Boiadeiro pendurado nele e a Florbela pendurada no João. Perdi os três de vista. Comecei a procurar meu querido e nada. Tratei de descer. Foi difícil descer! Será que eu tinha dormido por muito tempo?
Apesar do cansaço, corri bastante e cheguei ao encampado. Cumprimentei, rapidamente, vários conhecidos – seres humanos ou não, conhecidos ou não. Meu coração estava batendo com força, quem eu mais queria encontrar, não encontrava. Foi quando avistei a fogueira, o Rei Lázaro e quem eu queria encontrar depois de tanto tempo!
Ouvimos todos, sentados perto da fogueira – eu finalmente repousava minha cabeça no ombro que sempre me apoiou e no meu colo, estavam o João e a Florbela – o último relato. O relato do Rei Lázaro, o rei dono do cavalinho branco que tinha fugido do castelo. O rei chorou a perda do amigo e agora ele poderia reencontrá-lo, escutem os relinchos! O rei se arrependeu, pediu desculpas e disse que não era mais rei. Levantou-se num gesto teatral e veio na minha e na direção do Mateus falando em voz alta:
- A chuva!! A chuva!!! – e dava gargalhadas – A tempestade!! A tempestade derrubou a porta do castelo de nuvem! Sua visita! – o rei disse isso apontando o dedo para mim – Sua visita me mostrou que o mundo ainda existia lá fora! Sua carta!!! – disse isso apontando o dedo para o Mateus – sua carta me trouxe a boa nova!!! Meu cavalo está vivo!!! Está ouvindo os relinchos? Eu poderia ter mandado a guarda real prender todos vocês!!! Mas eu não mandei!!! Por que eu não sou mais rei!!! – gargalhadas e gargalhadas – Não há outro reino, só o maior de todos, que é tão imenso! Nem ouso descrevê-lo!!! O castelo!!! O castelo de nuvem se integrou à natureza dos morros agudos! O equilíbrio retornou!!! O encampado que era vazio está cheio de vida!!! Tudo que ninguém via... Agora é enxergado e conhecido!!
O ex-rei Lázaro nos agradeceu solenemente. O cavalinho branco se aproximou, dessa vez, com calma. Lázaro montou nele e se foi. E os habitantes do castelo foram se afastando, acenavam com alegria e sumiam, aos poucos, no meio da floresta do morro dos relinchos agudos.
Eu, o Mateus, o Teodoro, o Pimentinha, o João e a Florbela voltamos para casa sem saber ao certo aonde foi e onde está no momento toda aquela chuva de gente.
Ficaram apenas o besouro e a borboleta. Alguém especial disse a eles antes de partir:
– Paz e bem!
Pimentinha&Teodoro, de férias.
Eu mesma trago a carta para a Estação.
Beijos aos leitores - obrigada Gabriel! - e ao Mateus, companheiro nesta viagem literária.
Encerro com muito carinho,
Carol
terça-feira, março 04, 2008
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2 comentários:
Relato especial de João Boiadeiro: Foi uma aventura inesquecível, e a Carol disse bem quando falou que sou um ótimo montador de cavalos. Realmente, o véio fica sem palavras para falar mais alguma coisa. Espero viver outras aventuras dessas com vocês antes de abandonar o planeta. Um grande abraço ao rei Lázaro, que tem o nome de uma praia muito bonita de Ubatuba. Saudações noroestinas!
Carol,
Foi muito bonito o final dessa história, não acha? Acho que não poderia ter sido de outra forma. Para a próxima aventura, temos que mobilizar os grandes exploradores das grandes histórias: as crianças. Um beijo!
Paz e bem!
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