sábado, julho 11, 2009

Quando vem Maria?

À memória da República dos Macacos

Quando vem é sempre bem
Vinda quando vem é sempre
E essa bagunçada coisa uma arrumada fica
(Ai de mim sem essa moça)

Quando vem,
Passa e enxágua, que já estraga
Passa o rodo, que já molha
Limpa e varre, que acumula
Desentope, que já entope
Limpa e carpe, que já cresce
Fecha e joga, que já enche
Estica e cobre, que não dorme
Escancara, que ventile!

Mas se vai e não faz mal
Pois já leva o que eu levei
Três semanas a guardar — leva o que eu não lavei
(Para quando vem de novo)

Quando vem,
Traz camisa, que já acaba
Traz miseta, que já acaba
Traz uns short, que já acaba
Traz as calça, que já acaba
Traz as blusa, que já acaba
Traz toalha, que já acaba
Traz as meia, que já acaba
Traz cueca, que já acaba

Como se não fosse muito
Fazer tudo o que ela faz
Boa gente ela nos chega — e o preço tanto faz
(Isso paga toda falta?)


João Boiadeiro

Um comentário:

Carol Ferreira disse...

Ah eu não vejo a hora da Maria ver esse poema! É uma bela homenagem! E é muita necessária também... Não vejo muitas pessoas valorizarem o trabalho doméstico. Na verdade, as relações dentro dele ainda remetem à servidão. Certa vez, li um texto que dizia que o trabalho doméstico não é valorizado porque ele não está ligado ao interesse econômico, mas ao âmbito das famílias, das casas. Curioso, não? Se um trabalho não colabora diretamente com a produtividade que dá lucro no mercado, ele é marginalizado. Algo para ser pensado, né? Obrigada por provocar essa reflexão, querido. Beijão!!!