quinta-feira, julho 16, 2009

Ata da reunião ordinária realizada ontem na Estação

No início do encontro, os presentes se confraternizaram muito alegremente ao sabor de um lanche gostoso. Após a introdução, a presidente da assembleia, srta. Florbela, saudou a todos os presentes, de modo especial ao sr. Teodoro, em recuperação de um grave estado de saúde. A seguir, todos assistiram a uma vídeo-conferência proferida pelo eminente teólogo e escritor Leonardo Boff (que recomendamos, com nossas melhores avaliações, a todos os viajantes). Em seguida à palestra, a sala foi tomada por um importante silêncio reflexivo, que era interrompido de maneira esparsa por alguns soluços de choro e por cochichos. Após despertar de um rápido cochilo, o sr. Teodoro sugeriu que todos fizéssemos uma pausa para um lanche, e o sr. João Boiadeiro propôs que, em seguida, expusséssemos um a um nossas impressões acerca do assunto e nossas sugestões para ações a serem tomadas pela Estação Querida a respeito do tema da reunião. Foi diante da mesa de comes e bebes que se deu início às exposições. Aconteceu que, a uma brilhante argumentação da srta. Carol Ferreira a respeito do privilegiado papel da arte na missão que motivara a reunião, seguiu-se uma discussão franciscana que se mostrou impossível de ser registrada nestas linhas da maneira convencional. Razão pela qual decidimos, após sugestão do Rei Lázaro, que o secretário responsável pela ata, este que escreve, resumisse o debate às conclusões, a saber:

Tudo o que somos e sonhamos, tudo o que fizemos, fazemos e planejamos fazer, tudo no que acreditamos e temos fé, nada parece fazer o menor sentido neste momento se não consideramos a principal questão que se põe duramente verdadeira diante de nós: a questão da vida no nosso Planeta. Artificializamos de tal maneira nosso ser-no-mundo que não nos sentimos ligados ao infinito de vida que constitui nossa única casa comum, a mãe Terra, e o universo como um todo. Assim como o modo de pensar platônico separou corpo e mente, desenvolvemos um grau assustador de abstração de nossa existência, a ponto de nos rendermos, inertes, à neutralização em massa de nossa sensibilidade e de nosso cuidado, expressões fundamentais do ser humano. Pois é diante da progressiva destruição de nosso Planeta que essa ausência de cuidado se torna mais evidente: assistimos a tudo com uma confortável sensação de impotência, como se não fôssemos bilhões os que condenamos a perversidade do desmatamento, da poluição, da morte. Nossa ciência (cujo método anuncia em si a natureza excessivamente anti-sensível da racionalidade técnico-científica) está de tal modo fragmentada que não dá conta da multiplicidade e da complexidade de relações em que nos situamos no nosso universo; nossos cientistas, tão específicos são seus conhecimentos, não conseguem visualizar o todo, e não têm muito a oferecer no que concerne a soluções para o impasse que ora se revela. Mais do que ciência, precisamos de uma razão sensível que nos permita voltar às origens e olhar com humildade, respeito e admiração para a vida que integramos. Nós, da Estação Querida, não acreditamos que os principais debates contemporâneos estejam sendo travados pelas diferentes ideologias; para nós, o embate fundamental que se dá hoje é o embate entre aqueles que defendem e os que atacam a vida em sua dimensão global. Não faz mais sentido para nós deste humilde endereço tomar parte no velho debate ideológico; concluímos que não há mais tempo para esse jogo, e que devemos, isto sim, ingressar na discussão mais ampla e somarmo-nos à frente que defende a vida, no momento em que essa vida, por meio de grandes catástrofes e, de modo especial, por meio de muitos de nós, grita de dor e pede socorro. Temos de planejar com cuidado nossa atuação neste tempo que ainda nos resta. Pode ser que a nossa necessidade de buscar uma maneira mais efetiva de tocar os corações humanos signifique a ausência provisória de trens na Estação Querida; de qualquer modo, desejamos profundamente que todos os trens que já passaram por aqui sejam tomados, por parte dos viajantes, por seu papel na defesa da vida, pois sempre foi com esse propósito que, incoscientemente, trazíamos aquelas composições à nossa querida Estação.

Ao final do encontro, todos se abraçaram fraternalmente e fizeram uma oração. Carregado pelo voo gentil do sr. Pimentinha, o sr. Teodoro ainda passou uma última vez pela mesa, onde experimentou um novo quitute elaborado pelas mãos graciosas de Dona Maria das Hortaliças e de seu Francisco.

Estação Querida, 15 de julho de 2009

Estiveram presentes à reunião:

A bailarina
Carol Ferreira
Florbela
Francisco
João
João Boiadeiro
Rei Lázaro
Maria
Maria das Hortaliças
Marraposa
Mateus do Amaral
Pimentinha
Teodoro
Zefinha

2 comentários:

Luma Rosa disse...

Não estavam presentes na reunião várias pessoas e estas fingiram que não viram o bonde passar.
Quando a terra reclama, eles se surpreendem e arriscam "Tudo isto é culpa do homem"! Não se conscientizaram que eles são 'os homens'. Está é a hora de cada um olhar para o seu próprio umbigo e fazer a sua parte, ao invés de esperar que o outro faça. Beijus

Gabriel Ruiz disse...

as lágrimas escorrem todas as vezes que me despeço, na estação.
Ademais, tenho a dizer que gostaria muito de ter a honra de conhecer Zefinha, Maria das hortaliças e Rei Lázaro.