Há muitos anos, a teoria da "geração espontânea" foi derrubada pela ciência. É sábio, pois, que os cientistas reconheçam que a própria ciência também não surgiu por geração espontânea. Pelo contrário, essa ciência como a conhecemos - instrumental, técnica, empírica - se desenvolveu como uma arma de conquista do poder, num contexto em que se buscava o aumento da produção de mercadorias para, no fim do processo, gerar acúmulo de riquezas. O que a ciência tem de fundamental na busca por melhores condições de vida à humanidade, ela não tem de neutralidade face à ganância dos homens. Na ciência, não há espaço para uma ingênua busca por conhecer o universo.
Quando, diante das questões do nosso mundo, esgotam-se os argumentos científicos sem que exista um consenso, é comum que algumas pessoas se voltem com raiva para a religião. Dizem nessas horas que religião é alienação, que religião é uma trava nos olhos que nos impede de olhar plenamente a realidade. Ainda que a religião estivesse ilhada e limitada a umas dezenas de pessoas ao redor do mundo - e isso está muito longe da realidade -, insistiriam na oposição ciência versus religião. Ora, reproduzir uma imagem a respeito da religião e, pior, reproduzir uma imagem da religião formada apenas com critérios científicos, desprezando as outras formas de expressão da razão, também é alienação. Se podemos atestar com muitos exemplos a parcialidade que pode existir na religião, com outros tantos concluímos a parcialidade que pode existir na ciência, por mais paradoxal que possa parecer. Mas, se a religião está longe de trazer argumentos convincentes sobre a realidade sensível, a ciência não esgota todas as possibilidades, nem traz em si a totalidade do que podemos chamar "espírito humano". Falta à ciência, pois, a emoção, que é a mais clara expressão do humano. O problema da ciência não está na religião, mas em si mesma, naquilo que falta a ela; por isso, não acho que se justifiquem as críticas inegociáveis à religião.
A religião não está na mesma dimensão da ciência. São coisas de naturezas diferentes, para as quais não vale comparação. Existe alienação na religião, mas ela em si não é alienação; não é preciso abrir mão do poder de decidir sobre si mesmo para professar uma fé (aliás, pelo contrário). Buscar um deus ou uma espiritualidade não pressupõe abrir mão dos conhecimentos técnicos sobre o mundo. "Atirar-se" com amor na possibilidade não comprovada da existência de uma inteligência suprema, que daria sentido à vida, não impede que continuemos a construir nosso leque de conhecimentos sobre nós e o que nos cerca. Religião e ciência não competem entre si por filiações, mas tratam de objetos diferentes. Aqui cabe observar que a religião também não tem o monopólio sobre a emoção de que falamos, ou seja, sobre o ímpeto de mover-se para fora, de buscar a realização em função do relacionamento com outras pessoas, típico da nossa espécie. Se disséssemos o contrário, estaríamos afirmando que, por exemplo, os ateus não têm condições de chegar à realização pessoal. Todos, pois, temos condições de chegarmos à realização neste mundo.
Hoje temos a ciência. A razão, que envolve a ciência e tantas outras formas de ver o mundo, vai evoluir com o tempo. Cabe à ciência de hoje reconhecer sua limitação frente à totalidade das aspirações da humanidade. A solidariedade, a ternura, o amor, isso pode ser somado à ciência, mas não é inerente a ela, assim como não é necessariamente à religião. Dito isso, lembro aos irmãos bravos defensores da ciência que desprezar a religião é desprezar valores da grande parte da humanidade. Desprezar a religião, no sentido mais amplo de "religião", é desprezar a própria humanidade. E isso vai contra qualquer método científico.
Lembro, também, que é um grande orgulho poder estar junto com vocês nessa caminhada para frente. Falando, pois, a partir de um mundo cheio de tristeza, espero que um dia todos busquemos, lado a lado, caminhar fundados na razão e na emoção - mas que esta predomine sobre aquela, para que em nossa conduta nos aproximemos do que chamamos "espírito humano", que "ninguém consegue explicar, mas que não há ninguém que não entenda".
Quando, diante das questões do nosso mundo, esgotam-se os argumentos científicos sem que exista um consenso, é comum que algumas pessoas se voltem com raiva para a religião. Dizem nessas horas que religião é alienação, que religião é uma trava nos olhos que nos impede de olhar plenamente a realidade. Ainda que a religião estivesse ilhada e limitada a umas dezenas de pessoas ao redor do mundo - e isso está muito longe da realidade -, insistiriam na oposição ciência versus religião. Ora, reproduzir uma imagem a respeito da religião e, pior, reproduzir uma imagem da religião formada apenas com critérios científicos, desprezando as outras formas de expressão da razão, também é alienação. Se podemos atestar com muitos exemplos a parcialidade que pode existir na religião, com outros tantos concluímos a parcialidade que pode existir na ciência, por mais paradoxal que possa parecer. Mas, se a religião está longe de trazer argumentos convincentes sobre a realidade sensível, a ciência não esgota todas as possibilidades, nem traz em si a totalidade do que podemos chamar "espírito humano". Falta à ciência, pois, a emoção, que é a mais clara expressão do humano. O problema da ciência não está na religião, mas em si mesma, naquilo que falta a ela; por isso, não acho que se justifiquem as críticas inegociáveis à religião.
A religião não está na mesma dimensão da ciência. São coisas de naturezas diferentes, para as quais não vale comparação. Existe alienação na religião, mas ela em si não é alienação; não é preciso abrir mão do poder de decidir sobre si mesmo para professar uma fé (aliás, pelo contrário). Buscar um deus ou uma espiritualidade não pressupõe abrir mão dos conhecimentos técnicos sobre o mundo. "Atirar-se" com amor na possibilidade não comprovada da existência de uma inteligência suprema, que daria sentido à vida, não impede que continuemos a construir nosso leque de conhecimentos sobre nós e o que nos cerca. Religião e ciência não competem entre si por filiações, mas tratam de objetos diferentes. Aqui cabe observar que a religião também não tem o monopólio sobre a emoção de que falamos, ou seja, sobre o ímpeto de mover-se para fora, de buscar a realização em função do relacionamento com outras pessoas, típico da nossa espécie. Se disséssemos o contrário, estaríamos afirmando que, por exemplo, os ateus não têm condições de chegar à realização pessoal. Todos, pois, temos condições de chegarmos à realização neste mundo.
Hoje temos a ciência. A razão, que envolve a ciência e tantas outras formas de ver o mundo, vai evoluir com o tempo. Cabe à ciência de hoje reconhecer sua limitação frente à totalidade das aspirações da humanidade. A solidariedade, a ternura, o amor, isso pode ser somado à ciência, mas não é inerente a ela, assim como não é necessariamente à religião. Dito isso, lembro aos irmãos bravos defensores da ciência que desprezar a religião é desprezar valores da grande parte da humanidade. Desprezar a religião, no sentido mais amplo de "religião", é desprezar a própria humanidade. E isso vai contra qualquer método científico.
Lembro, também, que é um grande orgulho poder estar junto com vocês nessa caminhada para frente. Falando, pois, a partir de um mundo cheio de tristeza, espero que um dia todos busquemos, lado a lado, caminhar fundados na razão e na emoção - mas que esta predomine sobre aquela, para que em nossa conduta nos aproximemos do que chamamos "espírito humano", que "ninguém consegue explicar, mas que não há ninguém que não entenda".
Nenhum comentário:
Postar um comentário